sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Noutro blog a que dou alguma colaboração (menos do que devia...) inseri uma divulgação do nosso Lumege nos termos que seguem. E o "Recado" obteve comentários muito interessantes. Leiam hoje o Recado e lerão amanhã os tais comentários. (Ou então... vão já lá espreitá-los! Estão no blog Som da Tinta, http://somdatinta.blogs.sapo.pt). Conheces a Som da Tinta, Freitas? Na nossa Ourém?

Um recado:

Se tiverem um minutinho, passem pelo Lumege, povoação do Leste de Angola, servida pelo Caminho de Ferro de Benguela (agora em reconstrução).
Foi no Lumege que iniciei a minha experiência de guerra colonial, um Lumege que não teria mais do que uma vintena de famílias europeias, embora muito populoso do ponto de vista autóctone.
A Companhia que íamos substituír, sofreu 11 mortos e teve mais de matade do efectivo atingido por ferimentos. Mas nós, felizmente, regressámos todos vivos e sãos. Quero crer que a nossa "sorte" teve a ver com o facto de sermos uma das raras Companhias comandadas por um capitão miliciano, um engenheiro agrónomo de Setúbal que foi apanhado na curva da vida e empurrado, como todos nós, para uma tarefa que não queria. Ele não era militar profissional. Lembro-me de que a primeira "operação militar" que planeou, foi a de mandar os seus homens pelas sanzalas ("quimbos", como se chamam naquela zona) a tentarem convencer os cidadãos a virem à enfermaria do quartel sempre que tivessem qualquer problema de saúde.
A princípio, nem queriam ouvir os militares. Passadas semanas, formavam fila (na altura dizia-se "bicha") à porta da enfermaria! Regressámos todos, vivos e sãos. E de consciência mais ou menos tranquila. Apesar de um ou outro incidente, absolutamente pontuais.
Somos um grupo de homens que, há 35 anos, desembarcou pela primeira vez em Luanda. No exacto dia em que outros homens desembarcavam pela primeira vez noutro "território" cujo nome a palavra Luanda contém: a Lua. E de Angola trouxemos um proveito: uma amizade duradoura.
Hoje, recordamos aquelas gentes e aquelas paisagens com carinho.E aceitamos divulgar (também) um ou outro episódio menos feliz. Porque há um ou outro de nós que necessita dessa catarse.
Convido-vos a visitar o Lumege. Em http://lumege.blogspot.com . E a deixar um comentário.
Pode ser que, um dia destes, repitamos na Som da Tinta uma experiência que já cá tivemos: apresentar livros de memórias do tempo da guerra colonial.
Zé Oliveira

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