quinta-feira, novembro 12, 2009

segunda-feira, outubro 26, 2009

Escutas em Belém

Afinal, as escutas telefónicas e a espionagem informática existem de facto, na presidência da República.

O nosso blog conseguiu fotografar em Belém um grupo de experientes operacionais, quando se preparavam para as escuta. Trata-se de gente com um invulgar traquejo militar exercitado nos confins do leste e norte de Angola há quarenta anos.

Para que o equipamento de wireless funcionasse sem problemas, os estrategas montaram a operação de campanha num discreto recinto exterior, dissimulado por frondosa vegetação e fizeram-se passar por patusqueiros de fim-de-semana.

A foto acima documenta o momento em que todos sintonizavam os equipamentos de escuta. Repare-se que um dos operacionais, pressentindo a presença da nossa câmara, dissimula os microfones direccionais com o casaco de cabedal.

O nosso fotógrafo conseguiu captar o momento em que um dos operacionais pedia ao comandante do pelotão de espionagem "teste aí este microfone a ver se funciona". Repare-se no profissionalismo destes especialistas: além de usarem microfones direccionais disfarçados de pasta de atum, ainda os dissimulam com guardanapos de papel.


Nesta altura os microfones tipo pasta de atum já estão escondidos dentro da camisa. Em cima da mesa, só os microfones tipo carcaça.

Tratando-se de uma acção de espionagem em tempo real, o comandante da operação já consulta o relatório da escuta, mesmo antes de terminada a operação.

"Teixeira, faz uma foto deste relatório e anexa aos autos", diz ele. "As nossas escutas acabam de comprovar que o Presidente "bolicou-se".
Repare-se na antena wireless em grande plano, da marca Grão Vasco, modelo Grão na Asa. Foram requisitados três exemplares deste equipamento, que foram abatidas ao activo por seis dos agentes secretos. Numa manobra de diversão (porque isto sem manobras de diversão não tem graça nenhuma), o agente 007-Hipólito e o agente 007-Teixeira usaram equipamentos da marca Super Bock.
Saliente-se ainda que, para neutralizar a carga das baterias Grão Vasco e Super Bock, o agente secrteto 007-Teixeira fez aparecer de surpresa uma broa tipo Avintes (não por bairrismo, mas simplesmente porque não encontrou broas tipo A dez). E para despistar, fez aparecer uma garrafa de whiski que 007 dos presentes fizeram evaporar. O oitavo elemento, Mr. Who, não bebeu; mas os restantes agentes fizeram desaparecer a parte dele, por uma questão de solidariedade.
Mas faltava instalar ainda um microfone disfarçado, aliás muito parecido com um microfone, portanto mal disfarçado: um salpicão. Mas a gente sabe como são distraídos os agentes secretos. Num instante se lembraram de que, por amnésia, se tinham esquecido de que já tinham desinstalado integralmente o líquido de um microfone disfarçado de garrafa de whiski. O incidente solucionou-se, com uma segunda garrafa que foi acompanhada de mais uma broa de Avintes (porque continuava a não haver A dez).
Os agentes secretos que eram de perto, ficaram por perto. Os que eram do norte, tomaram o caminho do norte. Agora com a vantagem de que tinham à frente dos olhos duas auto-estradas para escolher.
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A A1 e a A8
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quinta-feira, outubro 08, 2009

C.Caç 2544 na revista Combatente O almoço de confraternização das C. Caç. 2544 foi noticiado na revista Combatente, edição de Setembro.
A legenda e a foto vinham trocadas, mas procedemos à correcção dessa anomalia.
Para ampliar, clicar sobre a imagem.

sexta-feira, setembro 11, 2009

Agora, link directo no blog
Sobrevoar o Lumege, agora

Ver mapa maior
Para ampliar a imagem, tem duas maneiras: fazer dois clics com a mãozinha na zona que quer ampliar. E mais dois clics, e mais dois. Para diminuir, clicar no sinal menos. Também pode ampliar, clicando no sinal +.
Para passear, arrastar o mapa com a mãozinha.
O quartel onde passámos cerca de ano e meio (eu passei apenas cerca de dois meses...) fica ao lado da pista, lado direito da imagem. Quase a meio comprimento da pista.

domingo, agosto 09, 2009

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Com 101 anos
Faleceu o senhor Costa
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"É com grande tristeza que venho participar o falecimento de meu avô, Manuel Mendes da Costa.
Faleceu no dia 3 de Agosto com a linda idade de 101 anos.
Como sei que era muito querido por todos os que viveram e passaram pelo Lumege, e certa de que muitas pessoas visitam esta página, faço através desta e em nome de toda a família a participação do seu falecimento. Partiu o maior património humano da nossa grande família, um Homem de grandes valores morais e sociais, que pautou toda a sua vida segundo a honestidade, integridade, verdade, bondade, amizade...
Foi um homem virtuoso que jamais será esquecido. Na sua descendência permanece esta excelente herança, os seus filhos são fiéis a estes valores e graças a ele, também os filhos dos seus filhos. Estará para sempre no nosso coração, com a sua sabedoria, compreensão e doçura.
Agradeço à Lay a comovente homenagem que lhe fez ainda em vida e que fiz questão de lha ler. Apesar da sua avançada idade, ainda a recordou com saudade.

A neta,

Rute Costa Correia"
rutemarinel@hotmail.com
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terça-feira, agosto 04, 2009

Domingo passado, no Lumege
Feiticeiro assassinado

Um cidadão de nome José Muquimba, de 64 anos de idade, foi espancado até à morte no passado domingo, nos arredores da vila de Lumege, acusado de feitiçaria.

A notícia, divulgada ontem pela Angop - Agência Angola Press, adianta que a vítima foi espancada por dois jovens de 21 e 34 anos de idade, seus familiares, que já estão a responder judicialmente.

Actos do género são frequentes entre a população, por acreditar em feitiço, explicou o chefe de Secção de Investigação Criminal do município da Cameia, Sub-inspector Manasses Capalo.

O oficial da Polícia Nacional explicou que, para esse tipo de casos, os órgãos de justiça são implacáveis.


Comentário acrescentado em tempo:
Já no nosso tempo de permanência por essas terras, se verificavam alguns azedumes relativamente aos métodos usados por feiticeiros ou feiticeiras. Como exemplo e para facilitar o trabalho de parto, as feiticeiras deitavam, no chão, a parturiente de barriga para cima e, para ajudar (?!) pisavam-lhe o ventre!!! Claro está que não eram espancadas até à morte, mas que levavam "duas" lambadas...

Diamantino.

segunda-feira, agosto 03, 2009

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Memórias fotográficas
O Hipólito mandou um endereço que nos permite apreciar uma grande quantidade de fotos antigas de cidades angolanas, muitas delas reportando os tempos em que lá estivemos.

A fotografia a cores vulgarizou-se durante o período de dois anos em que estivemos em Angola, lembram-se? As fotos de Angola dos nossos albuns pessoais começam por ser a preto e branco mas, por fim, eram a cores. Ora, neste site, verifica-se exactamente isso: foi no dobrar dos anos 60 para os anos 70 que apareceu a cor nas fotografias.

No site, as fotos são antecedidas de uma nota que inserimos abaixo, seguida da respectiva tradução de nossa lavra. Na maioria, as fotos são contemporâneas da guerra colonial, embora essa nota possa fazer crer que são anteriores, a começar pelo próprio título.

Mas é bom não esquecer que foi a própria guerra colonial o factor de impulso para a vida social de Angola, designadamente para a mencionada qualidade do urbanismo das suas cidades, que não passaria de "canto do cisne" do nosso teimoso colonialismo.

Pre War Angola Photos
Angola was such a beautiful place before the war. Very nice and well-planned cities. It desserves its own thread. Although most of us weren´t born when all these pictures here where taken, I will try to capture the pre-war era! Let´s all hope and pray that this country gets rebuilt quickly and efficiently! Most of the pictures date back to the late 60´s and 70´s!


Tradução: "Fotos de Angola antes da Guerra
Angola era um sítio imensamente belo antes da guerra. Cidades muito bonitas e bem planeadas. As suas linhas eram muito próprias. Apesar de muitos de nós não serem ainda nascidos quando todas estas fotos foram tiradas, tento imaginar os tempos anteriores à guerra. Deixem-nos desejar e rezar para que este país consiga consiga reconstruir-se rápido e eficientemente! A maioria destas fotos é anterior aos idos anos 60 e 70!"

Visite o site seguinte:
www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=418274
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terça-feira, julho 28, 2009

Mais um encontro!
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Lembram-se desta foto? Foi publicada aqui no dia 23 de Agosto de 2008, a acompanhar um texto de memórias assinado por Delay.
Pois agora chegou eta mensagem para ela. Como seria muito improvável a Delay ir consultar o comentário no post de há quse um ano, por desconhecer que ele lá estava, aqui fica:
Boas,
Olá Lay, daqui é o Amilcar o marido da Filomena, filha do Costa e da Nini. Os meus sogros ainda se encontram vivos e de saúde. o meu contacto é o 252671152 ou 967035535.

1 grande beijo.

Amilcar Vaz

Terça-feira, Julho 28, 2009
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Foram poucos, mas bons
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Um grupo de seis ex militares da C.Caç.2544 reuniu-se no passado dia 21 num jantar que assinalou os 40 anos que passaram desde o nosso desembarque em Luanda.
O Barandas de Tranmissões acabou por também comparecer, juntando-se assim aos já esperados Almeida, Abílio, Hipólito, Barandas, Fragoso e Cardoso. A confraternização decorreu no Restaurante "O Páteo", no Shopping dos Olivais (actual Spaccio) em Lisboa.
"Como já era de esperar, recordámos aqueles tempos que nos uniram, até sempre", diz o Hipólito.


Rádio cá, Rádio lá
A conversa trouxe à baila coisas como o slogan de abertura do programa radiofónico Hora do Soldado, que começava assim: "Este é um programa dedicado a todos aqueles que em terra, mar e ar demonstram ao mundo que a razão da nossa força é a força da nossa razão!".
Ou o slogan da rádio do MPLA, que proclamava: "Um só povo, uma só nação. Guerrilheiros, ao ataque! A vitória é nossa!"

sexta-feira, julho 24, 2009

O inconfundível Povo angolano
. Para ver e ouvir, clicar aqui:
http://romadevidro.blogspot.com/

terça-feira, julho 21, 2009

Mais documentação histórica

Foto: ex-Alferes Almeida

Este é o Jaimito, que um dia veio parar ao nosso quartel do Lumege, trazido por pessoal da nossa Companhia não me lembro bem em que circunstâncias. Fico à espera que alguém esclareça como é que isso ocorreu.

Recordo-me que era filho de guerrilheiros do MPLA com quem vivia no mato mas, apesar da insistência e habilidade com que conversávamos com ele, nunca pronunciou uma única palavra acerca das suas origens. Recusava-se obstinadamente, apesar de bem tratado por nós. Mas um dia, quando um rádio levava desde algures em Portugal até ao longínquo Lumege o relato de um desafio de futebol, o Jaimito não residtiu à euforia de um golo e gritou: "Benfica!"

Sei que chegou a integrar a turma de alunos da escola do Lumege, leccionada pela esposa do capitão Tangarrinhas, comandante da nossa Companhia, mas não me lembro de mais nada.

Neste dia de hoje em que se completam 40 anos sobre o nosso desembarque em Luanda, aproveitamos para colocar em dia a edição de informação que continua a chegar-nos de remetente anónimo, uma vez que se reveste de inegável interesse documental, independentemente das conotações que possam ter implícitas (políticas ou outras), aqui veiculadas mas não comprometendo quem coordena este blog

Jornal ”República”

Fundador: Dr. António José de Almeida

Director: Carvalho Duarte

Director Adjunto: Alfredo Guisado

Diário da tarde de maior circulação em todo o país

Chefe de Redacção e Editor: Artur Inez

Terça-feira, 10 de Setembro de 1957

Ano 47 ( 2ª SÉRIE) - Nº 9598 - Preço 1$00

Apresentou uma gravura com os presidentes dos Órgãos Directivos da Casa dos Estudantes do Império: Hugo Menezes, de S. Tomé, Carlos Ervedosa, de Angola, Fernando Vaz, de Moçambique.


CORPO VOLUNTÁRIO DE ASSISTÊNCIA AOS REFUGIADOS (C.V.A.A.R.)
Brazzaville, 18 de Setembro de 1961

Caro Mario de Almeida, prezado compatriota:

Saudações cordiais. Em resposta à sua carta de 8 de setembro de 1961, temos a informar-lhe que estivemos com o Videira em Accra e lhe fizemos ciente dos objectivos da nossa organização.

Junto lhe enviamos os estatutos para sua completa documentação.

a) Alojamento: O comité Administrativo da nossa organização resolvendo que o bureau principal do C.V.A.A.R. ficasse instalado em Leopoldville, e os médicos morassem juntos num sistema de mês se, numa villa que satisfizessem as condições exigidas para todos os casais.

b) O local de trabalho é junto dos refugiados, ao longo da fronteira com Angola.

c) As deslocações são à cargo da organização

d) Aguardamos a oficialização do C.V.A.A.R. pelo governo do Congo para iniciarmos a nossa actividade. Nessa altura entraremos em contacto consigo.

e) Não há propriamente honorários. Consoante as possibilidades materiais do C.V.A.A.R., assim serão as verbas para manutenção dos médicos e suas famílias. E é tudo. Aceite as nossas melhores saudações fraternais com um abraço amigo.

Pelo comité Administrativo do CORPO VOLUNTARIO ANGOLANO DE ASSISTENCIA AOS REFUGIADOS

Américo BOVOADIDA (Secretário Geral)

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O MPLA COMO MARCA

O MPLA como Marca representa um poder permanente em função de mais do que a sua história e multiplicidade de histórias e perpetuações das suas tradições.

Um dos factores qualitativos de recriação da sua força consiste na lealdade da corrente regeneradora dos seus aliados. Os seus atributos, qualidade e expectativas criadas e uma amálgama de resultados e sua funcionalidade reforçam uma narrativa que impulsiona a sua existência.

Não há dúvida de que as crenças sagradas, criações, metas e seu prestígio, sua visão e missão, capacidade de inovação reforçam o seu posicionamento. A sua suposta notoriedade e fidelização em constante construção criando boas ligações emocionais melhorarão consideravelmente essa marca. Sendo assim será que a marca MPLA é um sistema propulsor e fonte de criação de valor? Será que a notoriedade do MPLA continua a ser evocada de forma espontânea? Para que a marca MPLA se perpetue será necessário que as atitudes das pessoas correspondam a avaliações globais favoráveis. Não há dúvida que a força da marca MPLA quase se confundirá a um culto descentralizado e de interacções e laços fortes e experiências partilhadas que criam várias identidades verbais e simbólicas. Para falar da antiguidade da Marca MPLA teremos que falar forçosamente do seu núcleo fundador de Conacry dos anos 60. A marca MPLA se perpetua pelo seu prestígio devido as associações intangíveis, pelo seu simbolismo popularizado incontornável e grandes compromissos com o passado. O MPLA como marca, alem de possuir narrativas de sobrevivência, inclui testemunhos que dão a história, significados mais profundos e grande carácter de emocionalidade. A história do nacionalismo e luta de libertação pelos actores de renome a partir da fundação do MPLA em Conacry pelos seis fundadores bem personalizados, como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Hugo José Azancot de Menezes, Lúcio Lara, Eduardo Macedo dos Santos e Matias Migueis perpetuarão essa marca de forma reflectida.

Poderemos então afirmar que os fundadores de Conacry foram os agentes prioritários e fundamentais da verdadeira autenticidade da marca MPLA. A dinâmica da história e a construção de identidades pressupõem estados liminares, pelo afastamento constante de identidades anteriores. Desenvolver a cultura da marca MPLA exigirá um constante planeamento e estratégias que permitirão reunir e sentir esta marca global. Para terminar apelaria que nas verdadeiras reflexões que a lenda da marca não obscurecesse a lenda dos fundadores verdadeiros artífices.

Escrito Por:

AYRES GUERRA AZANCOT DE MENEZES
Desembarcámos em Luanda há 40 anos!
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Carta do Hipólito:
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MEUS AMIGOS
NO DIA 21 DE JULHO,COMEMORAMOS 40 ANOS DA CHEGADA A LUANDA.AQUI, NA REGIÃO DE LISBOA,
VAMOS ASSINALAR ESSA DATA COM UM JANTAR.
ASSIM CONSEGUIMOS REUNIR ,POR ENQUANTO:
-HIPOLITO, ABILIO, ALMEIDA (ex-Alf; na foto), FRAGOSO (ex-Cabo Transmissões) e CARDOSO (ex-Enf.).
Se estiveres interessado contacta-me.
PENSAMOS JANTAR NO SHOPPING DOS OLIVAIS.
ABRAÇO

HIPOLITO

domingo, julho 12, 2009

O jornalismo possível
"A Grande Excursão"
Como vimos na postagem anterior, o momento do nosso embarque para Angola com destino à guerra colonial, há 40 anos completados hoje, constituíu a matéria noticiosa mais importante desta página da edição do dia seguinte de O Século, embora não tivesse passado de uma foto-legenda.
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Para ampliar, clicar sobre a imagem

Calor de Lisboa
O título "Do Calor de Lisboa para o Calor dos Trópicos" não é apenas uma inocente referência meteorológica. Até porque, se bem me lembro, não estava demasiado calor na manhã do nosso embarque. A intenção do jornalista foi outra: aludia às acaloradas disputas pelo poder que minavam o marcelismo, empossado um ano antes (Salazar caíra da cadeira a 3 de Agosto de 1968 e viria a morrer um ano depois do nosso embarque, a 27 de Julho de 1970).
O "Calor de Lisboa" insinua a "guerra" da oposição, designadamente a actividade da "Ala Liberal". E o "Calor dos Trópicos" tem mais a ver com o "clima" da guerra de guerrilha do que com o registo dos termómetros.

O contexto da página
Vale a pena analisar o contexto geral da página em que saíu a matéria noticiosa.
Sendo O Século o matutino mais corajoso da imprensa diária portuguesa, os seus jornalistas passavam habitualmente para os leitores mensagens quase cifradas, confiados na falta de agilidade mental dos censores.
Vejamos o restante conteúdo desta página:

Convite para conferência de brasileiro
Por cima da nossa notícia, portanto em posição mais importante do que ela, não obstante tratar-se de mero anúncio, era dirigido um convite feito pelo Sindicato Nacional dos Profissionais de Escritório para uma conferência de um professor universitário brasileiro. O envio de tropas (nós) para uma operação de colonização era confrontado, através do alinhamento de paginação, com um testemunho de desenvolvimento de um Brasil descolonizado. De onde vinha um professor ensinar-nos coisas.

Sistema para alimentação de gados
A notícia que vinha abaixo da nossa, falava de gados e criadores. Provavelmente na alusão possível ao modo como eram reunidos, preparados e enviados para África estes verdadeiros carregamentos de carne humana.

A Grande Excursão
Imediatamente abaixo do "Novo sistema para Alimentação de Gados", a agência Abreu publicava um anúncio intitulado "A Grande Excursão". Não foi inserido imediatamente a seguir à nossa notícia, para não se tornar demasiado evidente aos olhos da censura.

Uma Portuguesa Desapareceu
Na coluna a seguir à foto da nossa partida, é noticiado o desaparecimento de uma portuguesa. Se é certo que a nossa Companhia teve a felicidade de terminar a sua participação na guerra colonial sem baixas, a verdade é que alguns dos que connosco embarcavam naquele dia não regressaram com vida. Desapareceram no mundo dos vivos.

União Nacional de Viana do Alentejo
A coluna termina com uma curta informação de Évora: Posse da comissão da União Nacional, o partido único. Foi uma forma habilidosa que o jornalista de serviço ao fecho da página encontrou para "rubricar" a informação subliminar que estava a passar. Como quem diz "isto acontece porque temos um partido único".

Ser Enfermeira
Mas as mensagens subreptícias iam continuar. Um anúncio maior do que a nossa notícia poderia ter ido parar a outra página, mas foi inserido nesta porque tinha tudo a ver: se partem militares para Angola, "Chegou a altura de seres enfermeira!"

Pastilhas Rennie
Pelo mesmo raciocínio, para digerir a situação resta aos portugueses a "força digestiva" das pastilhas Rennie, cujo anúncio fecha a página.

Conforto Europeu
Um anúncio de automóveis alude à "qualidade alemã e o conforto europeu", numa altura em que nós éramos o único país da Europa a sofrer o desconforto de uma guerra colonial de três frentes.

Perigo e Morte
Numa aparente alusão mórbida igualmente subliminar, dá-se conta de um iate em perigo, na página onde se publica o nosso embarque!... E noticiam-se as consequências da morte de dois farmacêuticos.
Faz hoje 40 anos
Quando nós fomos notícia
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Para ampliar, clicar sobre o recorte

Faz hoje 40 anos que embarcámos a bordo do Vera Cruz, rumo a Angola.

Acima abordaremos o contexto desta foto-legenda de O Século do dia seguinte.


domingo, julho 05, 2009

Buarcos, 2544
Câmara Oculta

domingo, junho 21, 2009

A crónica quase autêntica
C.Caç. 2544 confraternizou em Buarcos

Em cima: Freitas, Pinheiro, Escrita, Matos, Tangarrinhas, Cardoso, Américo, Leal, Castro, Correia, Abílio, Vieira, Maia e Fragoso; Em baixo: Figueira, Baptista, Oliveira, Numídio, Santos, Alho, Almeida, Fernando, Machado, Barandas, Rocha e Hipólito

O Hipólito diz que o almoço de confraternização/2009 da C.Caç.2544 foi em Buarcos, ali um nadinha a norte da praia da Figueira da Foz, e eu, que não estive lá, até acrediro (porque o mentiroso sou eu, não é o Hipólito). Agora o que me baralha um bocado, é que ele diz que a coisa decorreu no restaurante Metinha 3, mas, se acreditarmos na foto, a confraternização aconteceu no Cameia Bar.

Segundo a crónica do bom malandro, "apesar de a crise afectar os ausentes, os presentes estão dispostos a acabar com a crise, para que os ausentes possam estar presentes". Diz ele. Mas isto é discurso de 30 de Maio e a crise continua. Porém até nem admira, porque isto é discurso em estilo político (aliás em pleno período de campanha eleitoral) e, para que não haja dúvidas quanto ao carácter político do discurso da crise, as mesas estavam fartas. O mentiroso sou eu, não as fotos.

Os oficiais estiveram a 100%, diz o cronista. E os furriéis a 40%. Não há estatística acerca dos restantes efectivos, mas pelos dados disponíveis pode concluír-se que a crise não é geral. Se as estatísticas não mentirem tanto como mentem as sondagens, não há crise ao nível da classe de oficiais.

Há mais de 15 anos que o alferes Almeida não participava nesta peleja gastronómica, conforme assinala o Fernando Hipólito, que acrescenta um "seja Benvindo", coisa que me confunde um bocado e, aliás, sendo uma afirmação de furriel do pelotão do alferes Almeida, cheira-me a insurreição; Por que carga de água há-de o homem ser Benvindo?!... Então a gente quando olha para ele não vê logo que ele tem cara de Almeida?!... Mas, escrevendo como deve ser escrito, aqui fica a saudação: Bem-vindo, alferes Almeida!

O 1º Pelotão liderou a quantidade de presenças, com oito elementos.

Já ficou marcada data para a próxima confraternização: 29 de Maio de 2010.
Se não houver alteração, o golpe de mão será na Pateira de Fermentelos.


A Nova Gente não mandou nenhuma equipa de reportagem.

A Vip também não se fez representar.

A revista Exame também cometeu o imperdoável lapso de não mandar repórter.

A TV Guia também não compareceu.

A Caras ignorou igualmente o acontecimento.
Não fazem ideia do que perderam!

Fica, assim, o exclusivo desta festa mundana integralmente por conta do Blog Lumege!

Entre o almoço e o lanche, o pessoal disputou uma partidinha de futebol de praia, que contou com o reforço muito especial de um jovem que na altura passava por ali, em trânsito de Inglaterra para Madrid.

Esta é a foto obtida antes do início do jogo.
Imaginem agora o que é que as revistas cor-de-rosa perderam!...

sábado, junho 20, 2009

Esta frase faz 40 anos de hoje a um mês:
"Um pequeno passo para mim, um grande salto para a Humanidade"

Completam-se de hoje a um mês 40 anos sobre a data do desembarque dos homens do B.Caç.2879 em Luanda, apeados do navio "Vera Cruz".

Completam-se de hoje a um mês 40 anos sobre a data do desembarque dos homens da primeira missão interplanetária na Lua, apeados da nave Apolo 11.

Curiosa a coincidência de verificarmos que a Luanda que nos recebeu começa o seu nome com o nome da Lua.


Para Neil Armstrong, "foi um pequeno passo para mim, um grande salto para a Humanidade".
Para a quase totalidade de nós, que pisávamos outro continente pela primeira vez, foi "o primeiro grande salto da nossa vida". Há 40 anos, a completar dentro de um mês.


Estas fotos, amavelmente enviadas pelo Almeida das Transmissões da CCS a partir dos EUA onde reside, reportam a confraternização da Companhia de Comando e Serviços ocorrida há poucos dias.

segunda-feira, junho 01, 2009

Obrigatório ouvir
Reflexão acerca dos tempos coloniais
Sem fazermos juízo de opinião, recomendamos vivamente que se ouça a edição do passado domingo do programa de Paulo Coelho na Antena-1 "Memórias Vivas".
Concorde-se ou não com o que ali é afirmado, a nossa opinião acerca da guerra colonial em que estivemos envolvidos não continua exactamente a mesma depois de ouvirmos o depoimento do almirante Nuno Vieira Matias.
Acerca de África propriamente, ele só fala nos últimos 30 minutos. Mas é importante que se ouça também o primeiro quarto de hora.
Excelente programa de rádio.
Aqui:
http://ww1.rtp.pt/multimedia/index.php?prog=3477
Se não entrar directo, procure "Memórias Vivas" e clique em [Audio WMA].

quinta-feira, maio 28, 2009

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Autor foi furriel das oficinas auto da C.Caç.2544

Poemas de Miranda em livro

"Terras de Mar" é o título do primeiro livro de poemas de João Miranda, que foi responsável pela secção auto da C.Caç.2544.

Segundo palavras do autor, estes poemas são "olhares às minhas ilhas e gentes", olhares carregados da nostalgia de quem aprende o concreto da saudade quando aos 18 anos tem de abandonar a sua terra para "reforçar os estudos no estrangeiro" - outra vez palavras suas.

Confrontar com o outro
Aprendera com um professor de S. Vicente que "para dar valor ao que é nosso, temos de o confrontar com o outro, mas nunca negar o que de bom temos".
E foi a partir dessa premissa que escreveu "Terra e Mar". TALVEZ

Este desassombro clareante
E este voar, pairar sem asa
Este sofrer sem dor nem mágoa
Este sentir as coisas com mal.

Este estupor do mundo real
Um tanto longínquo
Este querer imperativo
Quando o mundo pisado é irreal.

Talvez e bem desejo
Me faça compreender o meu mundo

E irão as desilusões de imponência
E talvez quem sabe
Se este mundo de valores
Me venha a dar o valor que em mim julgo.
E do ajuizar do não subjugo
Despertará em minha vida.
Talvez...

Angola, 1970

Poeta caboverdiano

Este poema, reproduzido de "Terra e Mar", foi escrito por João Miranda durante a nossa permanência em Angola.
Desculparão que eu dê a esta prosa um tom algo pessoal, mas não poderei esquecer as longas conversas mantidas com o João Miranda, umas nos serões do aquartelamento do Lumege, outras durante o calcorrear dos centos de metros que iam do quartel até ao Cameia Bar do senhor António Videira e continuavam entre uma bica e duas cervejas.
João Miranda, africano de Cabo Verde, não era homem de grandes expansões, nunca saberei se por ser ilhéu, se por ser poeta ou se por ser um africano inserido a contra-gosto nas fileiras de um exército colonialista, portanto sujeito à disciplina da prudência no que toca a explanar ideias. Mas percebi nele, já nessa altura, uma indisfarçável admiração por Amílcar Cabral.
Depois marchei para o Luso com o encargo de fazer o jornal do Batalhão e foi com os poemas de João Fiel Miranda que iniciei uma rubrica de página inteira que se chamava "Revelando".
Passados quase 40 anos, poderei dizer com indisfarçável vaidade que revelei um poeta.

Agora, cabe a cada um de todos nós adquirir o livro. Porque um poeta, quando edita os seus poemas, fá-lo para que os outros os leiam. E não esqueçamos que cabe aos leitores custear o pagamento à tipografia. Não é justo que um autor tenha de desempenhar dois esforços: a produção intelectual de uma obra e também o pagamento da sua edição.

O João Miranda não nos pediu que dissessemos isto, mas certamente o livro dele poderá ser pedido directamente ao autor ou mesmo através deste blog, usando a zona de "Comentário" (linha a seguir a este texto).

Aqui fica um abraço para João Fiel Miranda, como estímulo para que em breve nos surpreenda com outra colectânea de poemas.

José Oliveira


quinta-feira, maio 21, 2009

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Na Biblioteca-Museu da República e Resistência
Memórias da Guerra Colonial


É na próxima quinta-feira dia 28, a partir das 19h00. Na Biblioteca-Museu República e Resistência, na Estrada de Benfica nº 419, Henrique Antunes Ferreira profere uma palestra integrada no 2.º Ciclo de Conferências «Memórias literárias da guerra colonial».


Jornalista, Romancista...
Henrique Antunes Ferreira, de quem se pode ler mais neste blog, é autor do romance "Morte na Picada", obra que se recomenda sem favor. Embora ficção, espelha com fidelidade os dois lados da guerra, uma fidelidade objectiva a que não será alheio o facto de Antunes Ferreira ser protagonista de uma longa carreira de jornalista, que culminou no lugar de chefe de redacção do Diário de Notícias.
Quem ainda não comprou o livro, talvez consiga comprá-lo no local da palestra.Trata-se de uma leitura obrigatória para quem viveu a experiência da guerra colonial.
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...e Cartoonista

Também já falámos disso neste blog. Aliás, coube-nos o prazer de trazer à luz do dia a identidade do Rico, assinatura de muitos desenhos satíricos que bastante intrigava os investigadores da matéria, que não lhe encontravam o rasto... Mistério que o próprio cultivava.

Acima, vê-se o Rico (abreviatura de Henrique) a ser caricaturado na redacção do seu jornal A Palavra (que foi fundado em Luanda quando estávamos em Angola) por Fernando Gonçalves, aquele que desenhava o Zé da Fisga (no Miau, na Notícia, nos anúncios das pilhas Tudor, etc...) que rubricava com Nando.