Este é o Jaimito, que um dia veio parar ao nosso quartel do Lumege, trazido por pessoal da nossa Companhia não me lembro bem em que circunstâncias. Fico à espera que alguém esclareça como é que isso ocorreu.
Recordo-me que era filho de guerrilheiros do MPLA com quem vivia no mato mas, apesar da insistência e habilidade com que conversávamos com ele, nunca pronunciou uma única palavra acerca das suas origens. Recusava-se obstinadamente, apesar de bem tratado por nós. Mas um dia, quando um rádio levava desde algures em Portugal até ao longínquo Lumege o relato de um desafio de futebol, o Jaimito não residtiu à euforia de um golo e gritou: "Benfica!"
Sei que chegou a integrar a turma de alunos da escola do Lumege, leccionada pela esposa do capitão Tangarrinhas, comandante da nossa Companhia, mas não me lembro de mais nada.
Neste dia de hoje em que se completam 40 anos sobre o nosso desembarque em Luanda, aproveitamos para colocar em dia a edição de informação que continua a chegar-nos de remetente anónimo, uma vez que se reveste de inegável interesse documental, independentemente das conotações que possam ter implícitas (políticas ou outras), aqui veiculadas mas não comprometendo quem coordena este blog
Jornal ”República”
Fundador: Dr. António José de Almeida
Director: Carvalho Duarte
Director Adjunto: Alfredo Guisado
Diário da tarde de maior circulação em todo o país
Chefe de Redacção e Editor: Artur Inez
Terça-feira, 10 de Setembro de 1957
Ano 47 ( 2ª SÉRIE) - Nº 9598 - Preço 1$00
Apresentou uma gravura com os presidentes dos Órgãos Directivos da Casa dos Estudantes do Império: Hugo Menezes, de S. Tomé, Carlos Ervedosa, de Angola, Fernando Vaz, de Moçambique.
CORPO VOLUNTÁRIO DE ASSISTÊNCIA AOS REFUGIADOS (C.V.A.A.R.)
Brazzaville, 18 de Setembro de 1961
Caro Mario de Almeida, prezado compatriota:
Saudações cordiais. Em resposta à sua carta de 8 de setembro de 1961, temos a informar-lhe que estivemos com o Videira em Accra e lhe fizemos ciente dos objectivos da nossa organização.
Junto lhe enviamos os estatutos para sua completa documentação.
a) Alojamento: O comité Administrativo da nossa organização resolvendo que o bureau principal do C.V.A.A.R. ficasse instalado em Leopoldville, e os médicos morassem juntos num sistema de mês se, numa villa que satisfizessem as condições exigidas para todos os casais.
b) O local de trabalho é junto dos refugiados, ao longo da fronteira com Angola.
c) As deslocações são à cargo da organização
d) Aguardamos a oficialização do C.V.A.A.R. pelo governo do Congo para iniciarmos a nossa actividade. Nessa altura entraremos em contacto consigo.
e) Não há propriamente honorários. Consoante as possibilidades materiais do C.V.A.A.R., assim serão as verbas para manutenção dos médicos e suas famílias. E é tudo. Aceite as nossas melhores saudações fraternais com um abraço amigo.
Pelo comité Administrativo do CORPO VOLUNTARIO ANGOLANO DE ASSISTENCIA AOS REFUGIADOS
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O MPLA COMO MARCA
O MPLA como Marca representa um poder permanente em função de mais do que a sua história e multiplicidade de histórias e perpetuações das suas tradições.
Um dos factores qualitativos de recriação da sua força consiste na lealdade da corrente regeneradora dos seus aliados. Os seus atributos, qualidade e expectativas criadas e uma amálgama de resultados e sua funcionalidade reforçam uma narrativa que impulsiona a sua existência.
Não há dúvida de que as crenças sagradas, criações, metas e seu prestígio, sua visão e missão, capacidade de inovação reforçam o seu posicionamento. A sua suposta notoriedade e fidelização em constante construção criando boas ligações emocionais melhorarão consideravelmente essa marca. Sendo assim será que a marca MPLA é um sistema propulsor e fonte de criação de valor? Será que a notoriedade do MPLA continua a ser evocada de forma espontânea? Para que a marca MPLA se perpetue será necessário que as atitudes das pessoas correspondam a avaliações globais favoráveis. Não há dúvida que a força da marca MPLA quase se confundirá a um culto descentralizado e de interacções e laços fortes e experiências partilhadas que criam várias identidades verbais e simbólicas. Para falar da antiguidade da Marca MPLA teremos que falar forçosamente do seu núcleo fundador de Conacry dos anos 60. A marca MPLA se perpetua pelo seu prestígio devido as associações intangíveis, pelo seu simbolismo popularizado incontornável e grandes compromissos com o passado. O MPLA como marca, alem de possuir narrativas de sobrevivência, inclui testemunhos que dão a história, significados mais profundos e grande carácter de emocionalidade. A história do nacionalismo e luta de libertação pelos actores de renome a partir da fundação do MPLA em Conacry pelos seis fundadores bem personalizados, como Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, Hugo José Azancot de Menezes, Lúcio Lara, Eduardo Macedo dos Santos e Matias Migueis perpetuarão essa marca de forma reflectida.
Poderemos então afirmar que os fundadores de Conacry foram os agentes prioritários e fundamentais da verdadeira autenticidade da marca MPLA. A dinâmica da história e a construção de identidades pressupõem estados liminares, pelo afastamento constante de identidades anteriores. Desenvolver a cultura da marca MPLA exigirá um constante planeamento e estratégias que permitirão reunir e sentir esta marca global. Para terminar apelaria que nas verdadeiras reflexões que a lenda da marca não obscurecesse a lenda dos fundadores verdadeiros artífices.
Escrito Por:
AYRES GUERRA AZANCOT DE MENEZES
1 comentário:
Ao ler este texto e outros já publicados aqui neste espaço fico espantado como os governos portugueses da altura ignoraram o que vinha no horizonte,originando uma guerra em três frentes que enventualmente poderia ter sido evitada.
Abraço
Henriques
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