segunda-feira, julho 28, 2008

Opinião Contributos para a história
A História necessita de perspectivas honestas

Escrito por Ayres Guerra Azancot de Menezes
Há um testemunho muito importante para a verdade histórica.
Não é fácil realizar uma pesquisa desta envergadura.
Não podemos deixar de apontar um certo subjectivismo pró-Viriato da parte do Dr. Edmundo Rocha por ter sido seu admirador real e fã e ter absorvido bons exemplos e ensinamentos. É um testemunho que terá cada vez mais valor pela pessoa do Viriato e pela coragem do DR. Edmundo Rocha em ter reconstituído parte da trajectória desta figura impar do nacionalismo Angolano.
A subjectividade por parte é redutora de certos realismos e declara ao longo desta exposição correntes ideológicas incompatíveis cujos contornos poderiam não ser reflexo de melhor visão estratégica para a o futuro do partido. Ainda é muito cedo e à medida que os anos vão passando os fatalismos têm que ser bem ponderados. Os subjectivismos aliados a jogos de poder condicionam muito as abordagens. Os favoritismos poíticos aliados a certas compensações de carácter literário muitas vezes denunciam jogos de contra poder que podem ser ajustados com o tempo. O maior ou menor contributo histórico deve resultar de perspectivas honestas. Só com o tempo e a confrontação de percursos dinâmicos de cada interveniente deste patamar se poderá postular sobre grandes teses.
A desonestidade aliada a recursos alternativos de sucesso bibliográficos e alianças, muitas vezes desvirtuam o verdadeiro carácter da honestidade histográfica. O ideal não será ajudar ou travar o percurso histórico dos correligionários para projectar livremente certas obras, mas sim permitir uma maior confrontação para enrriquecer e fortalecer o projecto comum. Desejando que outros livros ou memórias sejam rapidamente e honestamente publicadas, e que várias perspectivas sejam abordada para se poderem destrinçar também factores de ordem psico-sociais dos vários intervenientes.

Notas da Redacção

1 - O título é da responsabilidade do blog Lumege

2 - Este texto, como muitos outros de semelhante interesse, chegou-nos sob a forma de comentário inserido num post já antigo. Teria diminutas probabilidades de ser lido, se não fosse transferido para aqui, para a página principal do blog.
Foi inserido a 27 de Julho de 2008.

3 - Devido a incompatibilidades técnicas, o texto teve de ser re-escrito (por exemplo, a palavra "confrontação" aparece escrita "confrontação", problema que se repete de cada vez que surge uma palavra acentuada ou cedilhada. A conversão foi feita cuidadosamente, mas, apesar disso, pode ter existindo algum erro de conversão. Quanto ao mais, o texto foi transcrito ipsis verbis.

4 - Há mais textos que ainda não foram transcritos da zona de comentários, apenas por falta de tempo. Contamos não demorar muito mais a fazer isso. Se ficar prejudicada a sequência dos temas tratados, pedimos desculpa. Para diminuir esse incómodo, passaremos a encerrar cada texto com a referência da data de chagada.

sexta-feira, julho 25, 2008

Cavalaria e outras fotos
Fotos do Lumege neste endereço:
http://groups.msn.com/Osluenas/lumege.msnw?action=ShowPhoto&PhotoID=6018
À excepção da foto do Cameia Bar, obtida aqui no nosso blog, são todas de "Delay", uma ruiva natural do Lumege que tem tentado entrar em contacto connosco.

A informação supra foi-nos comunicada por Armando Monteiro (que foi alferes de transmissões no Batalhão que nos rendeu). Graças a ele, haveremos de ter aqui em breve mais novidades de "Delay".

domingo, julho 20, 2008

Lumege: nosso quartel

No tempo do preto e branco

Armando Monteiro, que foi alferes de transmissões do Batalhão que nos rendeu, tem tido períodos de colaboração regular com o nosso blog, com óbvio enriquecimento deste espaço, coisa que agradecemos.



Mandou-nos agora esta foto que, segundo conta na mensagem que a acompanhava, já antes nos terá enviado.Ele admite a possibiliadde de a foto se ter extraviado, mas eu acrescento outra hipótese igualmente plausível: ter efectivamente chegado mas, por força das montanhas de informação que arquivo-em-astas/edito/apago/passo-para-cd's ou por força do meu pouco sentido de organização (escolham...) terá desaparecido sem ser editada (postada...)

Agora sim, aí fica.


Reparem na data: faz 37 anos no mês que vem. É, portanto, obtida pouco depois da nossa partida.


Para Armando Monteiro, agradecimento e abraço.


Z. O.

quinta-feira, julho 17, 2008

Luanda:
O Tudo e o Nada
Publicada há um ano pelo semanário Expresso (de Lisboa), esta reportagem foi repetida na altura por vários meios de comunicação on-line (por exemplo no "Digital News - Angola Digital) e circulou pela internet, via e-mail.

O texto é do repórter Luís Pedro Cabral

As fotos são de Abílio Henriques, da C.Caç.2544, obtidas com equipamento precário em Julho de 2008
O título é da responsabilidade do blog Lumege

Desponta em Luanda uma nova sociedade angolana que, entre festas e champanhe, vive do petróleo, dos diamantes e de negócios multimilionários
Há quem viva entre recepções oficiais nos jardins da Cidade Alta e galas no palácio oficial do Presidente. Para trás ficam os que nada têm, num país em que a taxa de desemprego é de 80%

Luanda Sul


Hoje há festa em Luanda. Hoje, um dia qualquer. Um bebé nasceu entre o lixo, próximo de um esgoto a céu aberto, alguém atirou uma lata de «gasosa» para um chão imundo, alguém lhe deu um pontapé, alguém a recolheu para vender no mercado da sobrevivência, alguém caiu de um prédio sem varanda, sem água, sem luz, cheio de nada, cheio de gente, construído em altura, como em extensão se construíram quilómetros de barracas instáveis e insalubres, chamados musseques. Todos no âmago desta Luanda, uma camisa-de-forças recheada de automóveis, quase tantos como os buracos das suas ruas. Esta Luanda encerra toda a Angola, encerrando-se da Angola que resta. A assimetria entre a capital e as províncias é enorme. E parece menor se comparada com as paralelas assimétricas que dividem os ricos inacreditavelmente ricos, os inacreditavelmente-novos-ricos e os pobres, ainda inacreditavelmente mais pobres, de Luanda. Hoje, alguém morreu de cólera, de paludismo, alguém arrasta feridas de guerra pela cidade, vende cigarros na rua, lava o corpo na lama, chora ausências de nutrição, procura comida na lixeira, foi assaltado por um miúdo, bebeu de mais, fumou de mais, abusou, foi abusado, encontrou mais uma jazida de diamantes, inaugurou mais uma torneira de petróleo. E alguém terá de abandonar o musseque com a família às costas, a fugir das águas da chuva, do polícia que lhe diz para parar, para pagar, «pentear», dar «gasosa», a correr de encontro à fome que já tinha, nos dias pesados do calor, sem mais nada que isso, só uma estranha alegria que faz o angolano sempre sorrir. «Estamos sempre a subir». Tão certo como o contrário.


Central de Transportes em Viana. Caminho de Ferro em 1º plano

Nessa noite, cansada de trabalhar, cansada porque não tem trabalho, sem coragem para levantar-se entre os despojos do seu caos, essa Luanda estava incapaz de comparecer ao evento. Fazia anos - não seria elegante dizer quantos - Isabel dos Santos, primogénita do Presidente José Eduardo dos Santos, que escolheu o Miami, um bar da moda na ilha de Luanda, do qual é sócia, para celebrar com coisa de setecentos amigos chegados. Todos os convidados, escrutinados por um pelotão de seguranças, deviam vestir de branco. Abaixo do bar, numa enorme tenda sobre a areia da praia, seria servido o jantar. Ao lado, separado por um passadiço, brilhava a jóia da coroa, o bolo de anos, num altar envolto em arranjos florais. Por trás, fogo de artifício para a primeira fatia do bolo. Um grupo de «capoeira» articulava-se onde podia. Seguranças ofereciam olhares atentos, absolutamente convencidos do seu estado incógnito. Os convidados sacudiam o protocolo. «Boa party», dizia o novo ao velho, olhos à deriva. «Estas damas não são do teu campeonato», advertiu o «cota».


Saída de Luanda-Sul. Mercado

Isabel chegou dentro de um vestido em fundo branco, com estampado exclusivo de flores magenta e rosa - evidente como uma piscina olímpica no deserto - com Sindika Dokolo, o marido, filho de um banqueiro congolês, herdeiro prematuro da condição de milionário. Em séquito, abriram alas vagarosamente, consentindo que os desfrutassem. Três amigas aproximavam-se a grande velocidade, instáveis em salto alto, voando para um abraço cúmplice. «Huammm!!!» Beijo na bochecha da filha do Presidente. «Parabéns, querida! O teu vestido é lindo. Estás boa?» Tudo indicava que sim. «Ainda bem que vieste», disse Isabel. «Ya. Como é que eu ia faltar?!», declarou a amiga. As outras duas, de sorriso aberto, espreitavam com os queixos em posição oftalmológica nos seus ombros. Que desculpassem, Isabel tinha afazeres protocolares.


Próximo de Morro dos Veados

Convidadas da festa da filha de José Eduardo dos Santos: «dress code», branco Depois de um jantar bem regado, com interrupções fotográficas para a «Caras» angolana, decorria animadíssima a noite. Ocasião para iniciar a travessia para o bolo. Champanhe ao alto à saúde de Isabel, uma das empresárias mais poderosas de África, movendo-se em áreas multimilionárias como o petróleo ou os diamantes. Na última visita a Angola, o primeiro-ministro José Sócrates elogiou o seu empreendedorismo, endereçando-lhe convite para ministrar em Lisboa uma conferência sobre dinamismo empresarial. Talvez fosse aí o momento para explorar a contradição destes números: crescimento da economia angolana ao ano - 18 por cento; taxa de desemprego - 80 por cento. Ali, não era de certeza. Explodira alegria e fogo de artifício. O bolo de aniversário tinha agora um cenário de chuva brilhante, que iluminava o mar e os guardas que no pontão embalavam metralhadoras kalashnikovs.
Descera a madrugada em arromba. Os mais idosos começavam a desistir. Entravam outros, «party-people», «subjet-set» generalistas, a arejar as narinas com leques coloridos, envergando óculos panorâmicos, próprios para o amanhecer na pista. Excelente média de empresário por metro quadrado. O Mister África 2007, que agora chegava, cruzava-se com um deputado, de saída. A sociedade emergente desfilava, celebrando-se. O Miami era agora uma mini-Ibiza. O balcão do bar segurava um amontoado de gente, escorriam suores na pista, corpos apertavam-se, soltava-se África. Com a luz da manhã, os resistentes abandonaram.


Estrada para Viana. Snack Bar
À tarde, na esplanada de um restaurante chinês, na ilha de Luanda, hoje mais uma península, a cidade aparecia de novo deslumbrante, a coberto da distância, só interrompida por barcos de pesca rudimentares ou pelos iates que balouçavam ancorados. Câmara, luzes, acção: «Incrível! Como é que pode?», frase da Melhor Actriz angolana de telenovelas 2006, Tânia Bwity. Decorria a gravação da próxima telenovela da Televisão Pública de Angola, de título «Crime e Punição» - nada de Dostoievski -, sob direcção e argumento de Aloísio Filho, brasileiro, contente por ali estar, a bordo de um carro-digital com um estúdio móvel do mais moderno que é possível. «Incrível! Como é que pode?» Take 2. Os artistas, diz Tânia, são em muitos sentidos o espelho convexo da Angola que se mostra ao mundo, e ópio para os 12 milhões no anonimato, que usa quilómetros de puxadas de fios eléctricos só para os ver. «Incrível! Como é que pode?» Take 3. A avaliar pelo cenário, nada de errado.
INTERIOR da UNYKA, loja do estilista Rucka Santos, uma das mais luxuosas de Luanda (à espreita, um sinal dos tempos: uma cliente chinesa) A luz do dia começou a esconder-se. Do outro lado, Luanda adquiria brilho, camuflada sob as luzes de uma urbanidade que não tem. Esconde tantos segredos esta cidade, tantas singularidades, um fosso social que determina tudo ou nada, onde bolina uma classe média tímida, em boa parte expatriados ao serviço de multinacionais. Dizia alguém à Rádio Nacional sobre o problema dos buracos, que entopem o que está sobrelotado: «Como resolver o problema? Comprando um jipe.» Faz isto tanto sentido como a insegurança ser um excelente negócio para quem vende a segurança. Ou como estradas tão más entre províncias resultam num enorme estímulo para as companhias de aviação privadas. Angola está em bruto, como um diamante, mas não sofre de ingenuidade.


Luanda sul


De modo que se torna difícil massificar as modas internacionais, enquanto na rua há miúdos a coçar os piolhos, ou democratizar o luxo num universo transversal que habita condomínios de pobreza. Luanda é uma festa de crianças onde poucos têm altura para chegar à caixa das bolachas. É, portanto, o que é. Mas é também o inverso. Sol e alegria, desprendimento, ruído, vida vivida rápido, «ya» e «tásse bem». O ritmo vagaroso é apressado. A sua pressa tem muito tempo. O tempo tem relógios à venda, a bom preço nos zungueiros (vendedores de rua), directamente de um retalhista da R.D. do Congo. Que «take» reservará o futuro?
A BORDO de um iate, a caminho do Mussulo, recanto paradisíaco de Luanda Sul Se for da moda angolana, ao fundo está um sorriso. Os estilistas de Luanda, em processo de internacionalização, são como uma S.A. que se exporta, importando tecidos para as suas criações. Há tradicionalistas, retro-vanguarda, corte clássico, puristas, tribalistas, neoliberais, esquerda «fashion», os que estudaram Gestão em Lisboa, outros advocacia em Londres, uns que tiveram educação nos EUA, outros ali mesmo. Todos tomaram novo curso neste sector específico do universo amplo da futilidade. E há Shunnoz Tião, transcendência, antigo estudante de Psicologia, autoproclamado inventor da Pensologia, segundo o autor, uma espécie de corrente intelectual, com artes de igreja alternativa. «Não somos nada», diz Tião. «Não somos carne», diz Tião. Tião, contudo, desenha roupas para a carne que as pode comprar, vive da carne onde passeiam os exemplares com a sua assinatura. Com Tekassala, parceiro de ateliê, foram os Estilistas do Ano em Angola. Hoje, para encontrá-los é preciso viajar para as grandes capitais europeias, nas teias da globalização. O mesmo aconteceu com Rucka Santos. A sua loja, UNYKA, vende a exclusividade que o dinheiro pode comprar. Rucka organizou recentemente o espectáculo de Missy Elliot, embaixadora multimilionária do «rap» americano, que veio a Luanda ver como Angola é pobre entre o aeroporto e a sala de espectáculos. «Ela ficou muito impressionada com as mulheres com a fruta à cabeça», diz Rucka.





Luanda Sul


Vista da marina, onde iates e barcos de pesca tradicionais partilham águas «O mercado é reduzido, mas abastado», garantem. Tanto vai ao cabeleireiro a Paris, como lhe pode apetecer comprar-lhes uma colecção inteira e deixar o troco. Na «chaise longue» social, essa Luanda é como se fosse a capital do paraíso, pequeníssima, tão real como a outra, imensa e submissa, atada de pés e mãos como um gigante em Liliput. A sobrevoar a cidade num helicóptero particular, em direcção ao iate, na travessia para uma mansão, nem se notam as evidências. Os grandes problemas tornam-se pequenos, minúsculos, ínfimos. E desaparecem, voando para longe na nuvem doce de um Cohiba à brisa da utopia.
Vive em Luanda uma cidade cor-de-rosa, de festas, brindes à saúde dela própria, em pose para a «Caras», por acaso propriedade de Tchizé dos Santos, filha do Presidente. O angolano tem natureza vaidosa, gosta de exibir. A «Caras» dá os «high-lights» de tudo a quem nada tem. Os luxos, as recepções oficiais nos jardins da Cidade Alta, no palácio oficial do Presidente, as galas, as festas no Mussulo, recanto paradisíaco de Luanda Sul, navegando para lá nos seus iates, trajando lantejoulas e «smokings», com vista para uma cidade feroz, nas ruas de outra realidade.

Luanda Sul

Festa de praia Não seria por isso que Luís «Dufa» Rasgado, destacado empresário de Benguela, com vínculo ao MPLA, deixaria de assinalar o seu 60.º aniversário. A sociedade das aparências - ou das evidências - celebrava mais uma noite. Dizia no convite para se usar indumentária adequada, as melhores jóias, um «je ne sais quoi» de qualquer coisa, fosse o convidado pele de lobo em cordeiro ou exactamente o contrário. Fosse como fosse, ao entrar deixaram para trás uma rua cheia de guardas. E estes deixaram para trás as barracas e os milhões que nelas habitam, que deixaram para trás a província, as origens, longe, em sítios onde hoje só moram os velhos e a incapacidade de voltar. Para trás, musseque e pobreza. Para a frente, acepipes.
Gin-tónico, talvez? Whiskie irlandês com duas pedras de gelo purificado? Uma cervejinha importada a estalar? Salgadinho? O aniversariante, de «smoking» branco, da mesma cor do seu sorriso, estava à porta do Endiama, uma casa colonial de luxo no bairro de Miramar, onde fica a residência não-oficial do Presidente, assim como a «Casa Branca», que foi morada de Jonas Savimbi, líder defunto da UNITA. Abraço, beijo, agradecimentos pela comparência. «O trânsito está um inferno», atirou uma convidada, acertando a traseira do vestido, por onde escapava um pedaço de roupa interior. «Não se pode», devolveu outra, irrepreensível em corte clássico sobre camisa de folhos, penteado de fixação improvável.
SHUNNOZ TIÃO desenha roupas para os ricos. A sua parceria com Tekassala garantiu-lhes o título de Estilistas do Ano em Angola Muito difícil o trânsito na cidade. Se chove, pior. Os assaltos também não ajudam. Luanda foi desenhada para 500 mil pessoas. Tem hoje mais de cinco milhões. Nada flui. Só os mil esquemas que a rua oferece. Aliás, vende. Nada é de graça. Tudo se paga. Tudo falta. Tudo se arranja. Só os limitados conhecem como são duros os limites. E guardam isso para eles, como se guardassem um segredo. Os que navegam na zona franca do «cash-flow» saboreiam esta nova Angola que superou o colonialismo português, mas não o arrumou, que saiu de uma longa guerra civil, mas não sarou todas as feridas, que tem abundância de petróleo e diamantes e transborda pobreza a cada rua. E transborda riqueza, como certa roupa interior num vestido apertado.
É a Angola dos descendentes da ascendência, ínfima minoria. Alto negócio, carro de luxo, charuto, helicóptero, iate e champanhe, apartamento na cidade e casa no campo, da política de relacionamentos, do apetite sôfrego das economias internacionais. Crescem em Luanda prédios moderníssimos, esguios por questões de propriedade privada e valor de metro quadrado numa das cidades mais caras do mundo. Mas os passeios e as estradas em redor são feitos de buracos públicos. As chinelas havaianas que nelas passeiam - baptizadas «facilitas» -, tornaram-se mito, calçaram todos os pés, foram augúrio de modernidade. Mas os pés continuam sujos. E nada podem, caso se cruzem na rua com os pneus de um jipe topo de gama. O trânsito estava um inferno? Provável.
ESTIVANDRA Oliveira, Miss Angola 2006, fotografada na varanda da suite do Hotel Alvalade, em Luanda Os convidados integravam-se, escorriam pela cerimónia, mais descontraídos, segurando copos, descrevendo círculos. Uma bola gigante multimédia assinalava o evento: «Parabéns Dufa». Perto das mesas alongava-se um «buffet». Carnes, peixes, mariscos, frios, quentes, dentro de enormes caixas de cobre com tampa deslizante, para manter à temperatura exacta a comida. O vinho tinto devia estar a 16 graus. Para o Moët & Chandon, que começava a jorrar, o calor era inimigo da perfeição. Lá fora, dentro da enorme panela ao lume chamada Luanda, nas barracas onde não existe frigorífico e os escassos alimentos se conservam em sal, a Cuca, cerveja local, também sofre aquecimento prematuro. Tantas coisas dividem esse mundo deste, só mesmo imponderáveis os podiam unir num problema comum, sublinhando a diferença que os separa: uns incomodam-se porque não conseguem ter tudo. Outros sofrem porque só conseguem ter nada.




Estrada para Viana

Na pista, meninas com traje de princesinhas rodopiavam alegremente. Por trás do palco, um desfile de doces e uma colecção de frutos. Ao lado, outra de frutos secos. Um conviva mais animado, que sabia do que falava em matéria de fruta seca, pegou num exemplar e declarou: «Este é bom para a virilidade», olhar malandro. «É... hermafrodita». Adiante. Repasto, sobremesa, mais brindes, discursos, mais champanhe, digestivos, mais champanhe e mais champanhe, champanhe para o momento da noite: Dufa dirigiu-se ao centro da pista, para soprar as velas. Seguiram-se horas de baile, comida, bebida, alegria.
OS RICOS são poucos e muito ricos. Os pobres são muitos e muito pobres. São dois mundos diferentes num convívio de vizinhos Só a chuva deteve a festa, já de madrugada. De madrugada, o trânsito já não é um inferno. O inferno dorme a essa hora. Mas a chuva vai acordá-lo em sobressalto, despertando a Angola que não vai à «vernissage» e ao beberete, não tem preocupações com os «down jones» e o preço do barril de crude, não bebe conhaque em balão aquecido, não tem um todo-o-terreno Porsche e conta «off-shore», nem é servida em bandejas de prata. Essa Luanda, desenraizada, agoniza em contrastes. E sorri. E, sorrindo, é a Angola perdedora, neste jogo de subserviências. Tem a Babilónia debaixo dos pés, mas não encontra o caminho no meio do lixo e das barracas, a tropeçar no vácuo, a cair em nada. Se escavar um pouco do seu solo, é provável que encontre petróleo ou diamantes. A escavar no seu musseque, só encontra musseque.

terça-feira, julho 15, 2008

Whisky... velho!
Uma garrafa comprada no Luacano
aberta 40 anos depois

Para conhecer a história, ligar o som e clicar nas linhas seguintes:

http://www.youtube.com/watch?v=
mYOGSVB48aM&eurl=http://
batalhaocavalaria1883.blogspot.com/
Da C.Cav.1537 Chegou correio

Alguém sabe do Pinela?

Acaba de nos chegar esta mensagem do alferes Barreira, que se percebe ser dirigida ao Furriel António Vieira, que comentou aqui recentemente. Nenhum deles é nosso conhecido, mas isso não impede que aqui deixemos o apelo: Alguém sabe o paradeiro do alferes Pinela?

"Eu era da CCAV 1537 e fui render a v/companhia ao Mucussueje. Encontrei lá um amigo meu de Bragança , o alferes Pinela. Ainda me lembro bem da sua lavadeira, a Laurinda, que depois ficou comigo, alferes Barreira. Temos um blogue, procura por bcav1883 no google e logo lá vais. Sabes alguma coisa do Pinela? Nunca mais o vi.

Este é o endereço do nosso blogue: http://batalhaocavalaria1883.blogspot.com/"


Abílio Henriques em Luanda
Luanda Sul, hoje
Estrada de Luanda-Sul para Viana
Para ampliar, clicar sobre a foto

Estrada de Luanda-Sul para Viana. Posto de vendas de Materiais de Construção
Para ampliar, clicar sobre a foto

Pronto a Vestir
Para ampliar, clicar sobre a foto

O Abílio Henriques, que foi Furriel Miliciano da C.Caç.2544 e um dos mais entusiastas e colaboradores deste blog, esteve em Luanda há poucos dias.

As fotos que nos manda foram obtidas mediante telemóvel, em condições precárias, conforme nos relata. Mas promete equipar-se melhor para a próxima deslocação que fará outra vez a Angola.


Para já, aqui ficam três imagens. Outras se seguirão nos próximos dias.

sábado, julho 12, 2008

De Cavalaria
Chegou correio
Por curiosidade vesitei o vosso blog, porque uma comp. do Bat. a que pertenci esteve aí desde o Natal de 1966 a Junho de 1967 era a Comp: Cav. 780 eu pertencia a Comp. Cav.781 que estava no Mucussuege.

Voces têm um lindo blog, só lhes desejos felicidades.

Sou Antonio Vieira. Fui Fur. Mil. Mec. da Comp.Cav.781.

Podem ver o blog do BATALHAO CAVALARIA 782

Recordemos, com esta simpática mensagem que nos é enviada, a data que hoje tem um especial relevo para nós: completam-se neste dia 39 anos do nosso desembarque em Luanda. Luanda que encerra no seu nome a palavra Lua. Lua onde, seste preciso dia de há 39 anos, o homem desembarcou pela primeira vez.

Um dia de desembarques, este 12 de Julho de 1969!!!

Zé Oliveira

Alô Faria, vou hoje jantar a Vila Real e fico para amanhã. Estou no grupo das caricaturas.
Aparece!

sexta-feira, julho 11, 2008

Do B.Caç.2877
Chegou correio

Na caixa dos comentários entrou hoje esta mensagem, enviada por um camarada do B.Caç.2877, que viajoun connosco para Angola no Vera Cruz:

"Aqui lhes deixamos um grande abraço de amizade e camaradagem.
Muitos fomos e regressamos. Infelizmente nem todos.
Tomamos a liberdade de colocar no post de 12de Julho 08 uma referência e a cópia da apresentação do vosso Blog.

Até sempre

Bras Gonçalves

As palavras com que o Brás Gonçalves termina a mensagem aí de cima referem-se ao texto que temos no cabeçalho de apresentação do nosso blog. Agradecemos a referência e a transcrição e retribuimos os cunprimentos.

Segue o texto que Brás Gonçalves publica em http://bcac2877.blogspot.com/. Assinalamos a verde o texto transcrito do blog "Lumege".


Aqui deixamos, em mais um ano passado, a recordação amarga do nosso embarque para Luanda a 12 de Julho de 1969.
Muitos dos que foram, não voltaram.
Muitos dos que voltaram, já não estão vivos para nos acompanharem.
De todos e para todos, aqui deixamos um grande abraço de amizade, de companheirismo que se gera, se sedimenta e perdura para sempre, quando nascido de tempos e momentos de grandes dificuldade e incertezas.
Assim foi a vida de todos nós, naqueles 2 anos, perdidos, na nossa vida.
Por mais que não queiramos, as recordações da passagem pela guerra deixa marcas que irão permanecer por todo o resto da nossa vida.
Os sons, os cheiros, as memórias, vão passando muitas vezes, como um filme, aos pedaços, sobre as nossas consciências.
Aparecem em qualquer momento, sem se saber porquê.
Vivem acumuladas, como o pó num velho sotão, que de quando em quando é visitado e limpo.
Rebuscamos e aqui deixamos, parte da apresentação do Blog da CCAC2544 que seguiu connosco no Vera Cruz.
Um grande abraço tambem para todos eles



O dia em que desembarcámos em Luanda está registado a letras de ouro na História da Humanidade. Porque foi o dia em que o Homem desembarcou na Lua! Depois do Grafanil, veio o Lumege e mais tarde o Forte República. Éramos a CCaç. 2544 do Batalhão de Caçadores 2878, jovens apanhados na curva serôdea do colonialismo. Não desejámos a Guerra Colonial, mas participámos nela. Com que proveito? O da amizade que construímos e mantemos.


Esta foto-legenda, publicada no Século de 13 de Julho de 1969, regista em curto texto e documenta fotograficamente o nosso embarque no Vera Cruz a caminho de Angola, justamente no dia que hoje, 12 de Julho, cumpre 39 anos.

Há exactamente dois anos, publicávamos a imagem desta mesma notícia graças ao esforço do Fernando Hipólito, que a recolheu durante pesquisa que fez na Hemeroteca Municipal de Lisboa. Obteve-a nessa altura do modo possível, ou seja: por fotocópia. Por isso, a inserção que então fizemos não tinha a melhor qualidade. Entretanto, e mercê de um post publicado ontem no blog http://bcac2877.blogspot.com, dos camaradas que fizeram connosco no mesmo embarque, é-nos agora possível editar o mesmo documento mas agora com a qualidade acrescida que permite o recorte autêntico.

A última linha do texto deste recorte foi restaurada pelo blog Lumege, pois apresentava apenas as cabeças das letras.

Para ler o texto do recorte, clicar sobre a imagem




Lumege actual, visto do ar
As ruínas do nosso quartel aparecem no centro da imagem.
A messe de sargentos e o refeitório parece terem dersaparecido. Por serem de madeira, foram incendiados?
À esquerda, aparece a pista de aviação. Tem aparência de bastante usada.
Para ampliar, clicar sobre a foto

Já aqui dissemos, mas repetimos: para passear sobre o foto-mapa actualizado da região do Lumege (de todo o mundo, afinal!) basta clicar nas letras verdes abaixo e começar a actuar com o rato ao longo do monitor. Na escala da esquerda, pode aumentar (ou diminuir) a escala do foto-mapa. Actuando nas janelas em cima à direita, que aparecem no ecran sobre a foto, pode optar por ter as legendas (nomes das localidades, etc), que no caso do Lumege e região se resumem a bem pouco.
Angola&ie=UTF8&ll=-11.554287,20.781198&spn=0.008809,0.013218&t=h&z=
16&iwloc=addr
Alô terras do Sol Nascente!
Do Japão, quem nos visita?
...não é só curiosidade, é mesmo a suspeita de que podemos estar perante uma história curiosa: Quem, do Japão, nos visita aqui no blog?

Como já repararam, temos agora um geolocalizador de visitas aí na coluna do lado direito. (Até nos diz se em Paris faz sol ou troveja, mas enfim... o serviço do geolocalizador é de borla e a gente aceita, não escolhe...). Não sei se todos estão conhecedores de que indo ali ao geolocalizador e clicando sobre as bandeiras, somos remetidos para outra página. Depois, já nessa página, se clicarmos numa das bandeiras, ficamos a saber a localização mais exacta dos visitantes. E é assim que sabemos que, hoje, alguém nos leu a partir de Osaka.

Quem terá sido?!...

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quarta-feira, julho 02, 2008

Chegou correio

"Pela primeira vez visitei o blog. Como apaixonado por aquelas terras, embora não me considere um ex-combatente, pois tive a "felicidade", de nunca ter saido das cidades de Luanda, excepto quinze dias no Luso e um dia de passagem por Nova Lisboa.

É com muito apreço que deixo o meu louvor a quem dedica parte do seu tempo dando noticias e divulgar os factos ocorridos.
Bem Haja."

Jaime

Nota:
Por uns instantes, assaltou-nos a possibilidade de estarmos a receber uma mensagem do Jaimito que, vindo do outro lado da "barricada", foi recolhido pela C.Caç.2544 e integrou a turma da escola primária do Lumege com aulas dadas pela esposa do Comandante da Companhia, o Sr. Capitão Tangarrinhas (ver neste blog nota de 20 de Maio de 2008) Mas não é ele quem nos contacta, é outro Jaime. Então, dois apelos:- Ao Jaime que agora nos escreve, pergunto: não quer contar o que é que o levou de Luanda até ao Luso passar uns dias?- Ao outro Jaime, o tal que, vindo do mato e do outro lado da guerrilha (mas entusiasta do Benfica!), será que estes milagres da internet o colocam em contacto connosco?