quinta-feira, maio 28, 2009

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Autor foi furriel das oficinas auto da C.Caç.2544

Poemas de Miranda em livro

"Terras de Mar" é o título do primeiro livro de poemas de João Miranda, que foi responsável pela secção auto da C.Caç.2544.

Segundo palavras do autor, estes poemas são "olhares às minhas ilhas e gentes", olhares carregados da nostalgia de quem aprende o concreto da saudade quando aos 18 anos tem de abandonar a sua terra para "reforçar os estudos no estrangeiro" - outra vez palavras suas.

Confrontar com o outro
Aprendera com um professor de S. Vicente que "para dar valor ao que é nosso, temos de o confrontar com o outro, mas nunca negar o que de bom temos".
E foi a partir dessa premissa que escreveu "Terra e Mar". TALVEZ

Este desassombro clareante
E este voar, pairar sem asa
Este sofrer sem dor nem mágoa
Este sentir as coisas com mal.

Este estupor do mundo real
Um tanto longínquo
Este querer imperativo
Quando o mundo pisado é irreal.

Talvez e bem desejo
Me faça compreender o meu mundo

E irão as desilusões de imponência
E talvez quem sabe
Se este mundo de valores
Me venha a dar o valor que em mim julgo.
E do ajuizar do não subjugo
Despertará em minha vida.
Talvez...

Angola, 1970

Poeta caboverdiano

Este poema, reproduzido de "Terra e Mar", foi escrito por João Miranda durante a nossa permanência em Angola.
Desculparão que eu dê a esta prosa um tom algo pessoal, mas não poderei esquecer as longas conversas mantidas com o João Miranda, umas nos serões do aquartelamento do Lumege, outras durante o calcorrear dos centos de metros que iam do quartel até ao Cameia Bar do senhor António Videira e continuavam entre uma bica e duas cervejas.
João Miranda, africano de Cabo Verde, não era homem de grandes expansões, nunca saberei se por ser ilhéu, se por ser poeta ou se por ser um africano inserido a contra-gosto nas fileiras de um exército colonialista, portanto sujeito à disciplina da prudência no que toca a explanar ideias. Mas percebi nele, já nessa altura, uma indisfarçável admiração por Amílcar Cabral.
Depois marchei para o Luso com o encargo de fazer o jornal do Batalhão e foi com os poemas de João Fiel Miranda que iniciei uma rubrica de página inteira que se chamava "Revelando".
Passados quase 40 anos, poderei dizer com indisfarçável vaidade que revelei um poeta.

Agora, cabe a cada um de todos nós adquirir o livro. Porque um poeta, quando edita os seus poemas, fá-lo para que os outros os leiam. E não esqueçamos que cabe aos leitores custear o pagamento à tipografia. Não é justo que um autor tenha de desempenhar dois esforços: a produção intelectual de uma obra e também o pagamento da sua edição.

O João Miranda não nos pediu que dissessemos isto, mas certamente o livro dele poderá ser pedido directamente ao autor ou mesmo através deste blog, usando a zona de "Comentário" (linha a seguir a este texto).

Aqui fica um abraço para João Fiel Miranda, como estímulo para que em breve nos surpreenda com outra colectânea de poemas.

José Oliveira


quinta-feira, maio 21, 2009

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Na Biblioteca-Museu da República e Resistência
Memórias da Guerra Colonial


É na próxima quinta-feira dia 28, a partir das 19h00. Na Biblioteca-Museu República e Resistência, na Estrada de Benfica nº 419, Henrique Antunes Ferreira profere uma palestra integrada no 2.º Ciclo de Conferências «Memórias literárias da guerra colonial».


Jornalista, Romancista...
Henrique Antunes Ferreira, de quem se pode ler mais neste blog, é autor do romance "Morte na Picada", obra que se recomenda sem favor. Embora ficção, espelha com fidelidade os dois lados da guerra, uma fidelidade objectiva a que não será alheio o facto de Antunes Ferreira ser protagonista de uma longa carreira de jornalista, que culminou no lugar de chefe de redacção do Diário de Notícias.
Quem ainda não comprou o livro, talvez consiga comprá-lo no local da palestra.Trata-se de uma leitura obrigatória para quem viveu a experiência da guerra colonial.
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...e Cartoonista

Também já falámos disso neste blog. Aliás, coube-nos o prazer de trazer à luz do dia a identidade do Rico, assinatura de muitos desenhos satíricos que bastante intrigava os investigadores da matéria, que não lhe encontravam o rasto... Mistério que o próprio cultivava.

Acima, vê-se o Rico (abreviatura de Henrique) a ser caricaturado na redacção do seu jornal A Palavra (que foi fundado em Luanda quando estávamos em Angola) por Fernando Gonçalves, aquele que desenhava o Zé da Fisga (no Miau, na Notícia, nos anúncios das pilhas Tudor, etc...) que rubricava com Nando.