quinta-feira, maio 25, 2006

Governo de Lisboa não viu ou não quis ver
Os ventos eram de mudança

Texto e foto: Abílio Henriques
É verdade tudo o que é descrito pelo Armando Monteiro acerca do seu embarque, cenas que se repetiram durante 14 anos. Mas eu interrogo-me se aquela situação não se poderia ter evitado; e penso que poderia, se os governantes tivessem prestado atenção aos ventos da mudança.
Se não, vejamos:

- Em 15 de Agosto 1947, surge a independência da Índia.
- Em 4 de Fevereiro 1953, manifestações em Batepá (São Tomé e Príncipe), que conduzem a uma violenta repressão.
- Em 20 de Maio de 1954, aprovado o Estatuto dos indígenas Portugueses das Províncias da Guiné, Angola e Moçambique, que divide populações em três grupos: indígenas, assimilados e brancos (rdículo).
- Em 24 de Junho 1954, Invasão dos enclaves de Dadrá e Ngar-Aveli pela União Indiana.
- Em Outubro de 1954, fundação da UPNA (união dos povos do Norte de Angola), em Leopoldeville, dirigida por Holden Roberto.
- Em 18 de Setembro de 1956, fundação, em Bissau, do PAIGC dirigido por Amilcar Cabral.
- Em 10 de Dezembro d e1956, fundação, em Luanda, do MPLA chefiado por Mário de Andrade.
- Em 6 de Março de 1957, independência do Gana (antiga Costa do Ouro).
- Em 26 de Dezembro de 1957, Início da Conferêcia Afro-Asiática do Cairo, com representações de 35 países, que proclamou o direito dos povos à autodeterminação, à soberania e à independência. Em 2 de Outubro de 1958, Independência da Guiné-Conacri.
- Em 3 de Agosto de de 1959, em Pidjiguiti, Bissau, uma manifestações com estivadores e grevistas, causando dezenas de mortos.
- Em 4 de Agosto de 1959, Início dada Conferência dos Estados Independentes, em Monróvia, que numa das resoluções aprovadas proclamava o direito à autodeterminação dos territórios coloniais.

Depois dos sinais

- Em 20 de Janeiro,uma directiva do CEMGFA altera os objectivos estratégicos da defesa nacional, apontando para uma futura guerra no Ultramar.

- Em 4 de Abril de 1960, Independência do Senegal.

- Portugal não começa a trabalhar não para uma autodeterminação, mas sim para a Guerra. Em 16 de Abril de 1960, Dcreto-lei que cria do Centro de Intrução de Operações Especiais em Lamego.

- Em 25 de Abril de 1960 Criação do Depósito Geral de Adidos.

- Em 13 de Junho de 1960, Declaração do MPLA ao Governo portugês para a solução pacífica do problema colonial.

- Em 25 de Junho de 1960, prisão de dezenas de angolanos, entre os quais Agostinho Neto e Joaquim Pinto de Andrade.

- Em 30 de Junho de 1960, independência do ex Congo Belga (depouis Zaire e actualmente de novo Congo).

- Em 15 de Agosto de 1960, Independência do ex Congo francês.

- Em 25 de Setembro de 1960 Petição do PAIGC ao Governo português para resolução pacifica do problema da Guiné.

Nota: toda informação pequisada na web (OPORTAL DA HISTÓRIA).

Penso que se poderia ter evitado uma guerra, que se poderiam ter evitado as cenas do cais de Alcantara e da Rocha Codne de Óbidos. Foram 14 anos durante os quais mães, pais, fihos, amigos... que ficaram com os coração partido, milhões de lágrimas derramadas por Portugal. No final, a grande interrogação: valeu apena? Esta tem sido a minha interrogação e penso a que de muitos camaradas.

Abílio Henriques (de calções, na foto, no Luatxe)

segunda-feira, maio 22, 2006

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Manumarita sauda-nos!
À caixa de mensagens do blog Lumege acaba de chegar uma mensagem de duas palavras: "Manumarita sauda-vos".

Está entregue e retribuimos. Mas, Manu... quem és tu? Sacia-nos a curiosidade! Identifica-te!

(Em boa verdade, vieram duas mensagens, embora dizendo o mesmo. Uma assinada por Manumarita outra por Manu).
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"...ninguém bateu palmas"
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12 de Julho de 1969, C.Caç 2544 em Lisboa a caminho do embarque

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Texto: Armando Monteiro *
Fotos: Fernando Hipólito **
Estes embarques eram momentos dramáticos. Quando chegou a minha vez ano e meio mais tarde, depois de uma despedida de Lisboa à noite, foi tempo de ir pôr as malas no camarote e voltar para a convivência no cais, onde o ambiente até era descontraído. Chegou a hora, e começámos a formar para a entrada no navio. O meu batalhão seria o primeiro a entrar, à minha frente o major de operações, depois o capitão cmdt da CCS, a seguir eu, como oficial mais antigo da CCS, fez-se silêncio no cais... ao som do toque de caixa o major dá ordem ao batalhão para avançar, o capitão repete para a companhia, eu dou ordem ao pelotão, que se põe em marcha, então o silêncio transforma-se em gritos de desespero, os familiares gritavam pelos filhos, pelos irmãos, criou-se um ambiente de drama. De repente senti que todos os olhares estavam fixados em mim e pensei como iria representar aquela cena até ao fim, pôr uma cara alegre, tentando aliviar a tensão, poderia ser negativo, o meu filho vai como um pateta alegre irresponsável... pôr uma cara triste seria agravar ainda mais a situação, tentei manter a calma e segui com passo certo até dentro do navio, onde confesso me senti aliviado. Foi um dos momentos mais dramáticos da minha vida. Mais tarde já na amurada do Infante D. Henrique, continuava no cais o desespero da multidão, fiz um comentário para o lado - não pensei que isto fosse assim, todo este drama... e responderam-me: - já reparaste que alguns deste homens que estão a embarcar não voltarão?
......ninguém bateu palmas, sempre fui um mau actor...



Em plano de fundo, o Vera Cruz. Cais da Rocha do Conde de Óbidos, 12 de Julho de 1969

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Já a bordo do Vera Cruz. Da esquerda para a direita: Numídio, Alho, Santos, Hipólito num momento de descontracção.

* Alferes de Transmissões do batalhão que nos rendeu no Lumege

**As fotos são do album de Fernando Hipólito. Não reflectem o dramatismo contido no texto, mas são as mais adequadas que possuímos em arquivo. Sugerimos mais uma visita à foto do texto abaixo (O Século)

sexta-feira, maio 19, 2006

A nossa partida foi notícia n'O Século
Quando, a 12 de Julho, nos preparávamos para partir oceano adentro, a bordo do paquete Vera Cruz rumo a Angola, o fotógrafo do jornal O Século passava por lá e fazia uma foto do momento, que acabaria por saír na edição do dia seguinte.
Provavelmente, não terá sido ingénuo o título do texto da foto-legenda, tanto mais que O Século era um jornal crítico do regime (dentro do possível, é claro). O dia estava quente, mas o jornalista presumivelmente referia-se a outro "calor" que havia por cá - e pelos trópicos. O ambiente aquecia, porque Salazar caíra da cadeira alguns meses antes e, com ele, caíra igualmente alguma frigidez do regime...

Voltaremos ao assunto.

A imagem foi pesquisada por Fernando Hipólito na hemeroteca da Câmara Municipal de Lisboa.

quarta-feira, maio 17, 2006


Em Mafra, dia 3 de Junho
CCS do B.Caç. 2878 confraterniza

É já no dia 3 de Junho, que a C.C.S. do nosso Batalhão se reune para confraternizar.
Este ano o programa está a cargo do Domingos Garlão Martins e começa com a recepção junto ao Convento de Mafra. Segue-se uma visita ao Palácio Nacional de Mafra e almoço do restaurante Cangalho.
Depois de almoço, haverá um passeio pela Ericeira e visita ao Museu José Franco, no Sobreiro.
A jornada termina com baile e lanche.

quinta-feira, maio 04, 2006

Estamos em debate
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Depois de Carvalho de Almeida, as considerações de Armando Monteiro que acrescentam alguma informação de relevância histórica que gostaríamos de ver corroborada por outros intervenientes.

A opinião de Armando Monteiro

«Há tres factores aqui a salientar: o primeiro que é desconhecido pela grande maioria dos jovens de hoje, havia participação de angolanos no exercito destacado em Angola, cerca de 30% em 1972, eram recrutados como nós e faziam serviço nas mesmas condições. A segunda questão é que a população não era necessáriamente hostil, o que as populações querem é paz. Incluo aqui os milicias que tinham de sobreviver neste meio, como diz e muito bem a situação era diversa nos diversos locais e situações em Angola. Agora a questão principal, o que fazer em 1960? tinha Angola quadros para formar um governo? tinha certamente uma elite capaz de governar Luanda, mas com a retirada dos quadros coloniais ficaria entregue ao saque das grandes potencias. Era preciso preparar Angola e com quadros angolanos, em 1972 decorria um plano secreto para a independência de Angola, no qual eu participei, quem o sabotou? claro que estas coisas não se podiam nem anunciar nem reconhecer publicamente, pois caso contrário provocaria graves convulções sociais. É um tema sobre o qual estou a escrever».
Armando Monteiro

quarta-feira, maio 03, 2006

Duas notas
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Uma:. Aqui à direita, em cima, está a aparecer um resumo do curriculum do coordenador do blog "Lumege". Trata-se de um acidente (que passo a explicar) que será solucionado dentro de pouco tempo.
A explicação: Possuo alguns blogs pessoais (este é colectivo) que, tal como este, estão alojados na minha conta. (Creio que é assim que se diz, porque na verdade não passo de um pobre aprendiz de feiticeiro que percebe pouco destas magias de internet...)
E, ao incluír esse resumo de curriculum, ele passou a aparecer automaticamente em todos os blogs que manipulo.
Peço desculpa pelo sucedido, que remediarei em breve.

Outra:. O Fernando Hipólito enviou um documento muito interessante que nos diz respeito, que pesquisou na Hemeroteca da Câmara Municipal de Lisboa, mas trata-se de um documento que carece de alguma preparação. E uma violenta gripe tem estado a fazer braço de ferro com o coordenador. Com resultados negativos ao nível do tempo e das energias disponíveis.
Também por este atraso peço desculpa, particularmente ao Hipólito.
Zé Oliveira
Da discussão nasce a luz?
Este blog não visa a polémica;
mas não a rejeita

Chegou-nos um comentário de Carvalho de Almeida. Mas, em vez de o deixarmos na zona de comentários, decidimos editá-lo aqui, no corpo principal do blog.
Embora o coordenador de "Lumege" não perfilhe pessoalmente o conteúdo ideológico do comentário, assume a atitude de o publicar (ipsis verbis) com maior visibilidade. E, no final, dará a sua opinião.

Opinião de Carvalho de Almeida
«Numa busca a sites que me recordem Angola onde fiz parte do serviço militar vim dar com este e pela primeira vez estou a tomar conhecimento do que aqui se diz e conta. Estive 16 meses na antiga Cidade Vila Luso actual Luena e por diversas vezes fiz incursões pela zona do Lumege isto nos anos de 1968/69. A sua chamada de atenção vez ir ler o post de 13 de Abril, bem como os comentários que o mesmo suscitou. Com o meu maior respeito,estou de acordo com Armando Monteiro na totalidade. Sentia-se naquelas populações que nos viam como amigos e protectores. O que se passou depois do 25 A já nos ultrapassa mas pressentia-se que isso poderia vir a acontecer. Também era sabido que as milicias actuavam numa maneira que lhe chamava-mos o pau de dois bicos,sobretudo quando actuavam sózinhas o que não aconteceu a principio da sua constituição. A troca de informações entre eles e os elementos da Unita e Mpla era recíproca, mas o nosso exército também tal usou sobretudo no Norte de Angola, havendo até uma arvore que se designava por marco do correio onde eram estabelecidas troca de informações entre as partes. No fim de tudo o que ficou? Um povo mártir e entregue a si próprio e à vontade de poderes estrangeiros. Nunca senti tal enquanto lá estive. Nós não eramos estrangeiros. Sentia-se em todos. E agora?»

A opinião de José Oliveira
Embora possa não parecer, este blog é uma iniciativa colectiva. Portanto, (ou apesar disso...) a minha opinião aqui expressa só me vincula a mim. E cuja é:

Mesmo que fizessemos o exercício de tomar a parte pelo todo, isto é, mesmo que imaginássemos a história do colonialismo em Angola à imagem e semelhança da hisatória do Lumege, haveríamos de concluír que o registo não ficaria muito linear; teria altos e baixos, no que se refere ao respeito dos portugueses para com o povo autoctone que o Carvalho de Almeida sublinha.

Lembro-me perfeitamente de, durante os mornos serões do Lumege, divagar com os companheiros de armas acerca da ilegitimidade de podermos afirmar aquele território como sendo chão de soberania lusitana.

Na história das nações, verifica-se (basta olhar os mapas) que basta um rio ou uma montanha (ou uma grande diferença de culturas) para determinar a localização de uma fronteira.

Pergunto: Não chega a imensidão do aceano, para fazer fronteira? Somada à diferença enorme de culturas? Não basta olhar para as diferenças de cor de pele dos autoctones de um e de outro lado, para verificarmos que não somos gente da mesma pátria?

O termo da guerra não lhes devolveu automaticamente a tranquilidade? Pois não. Mas isso é outra conversa. Que pode ficar para outra altura.

José Oliveira